porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

TURBULÊNCIA

Indo e vindo pelas ruas da cidade mais maravilhosa de todas. Esbarrei em gente de praia, com pés sujos de areia. Menino sem camiseta. Metrô demorado e com cara de início de velório. O sol diminuía e eu atrasado para um encontro na baixada fluminense. Sai do metrô feito lobo da cova. Cheguei na Central do Brasil, deslizei por ruas laterais. Passei por camelôs de cortiços e dezenas de botecos entulhados. Cheguei num terminal de ônibus, que desconheço o nome. Vi uma mulher louca na calçada com as pernas em lôdo, não sei donde. Catava restos de bitucas de cigarros no chão. Gorda, sua barriga esparramava um suor oleoficado no seu púbis. De um lado e de outro vinham pessoas apressadas. Era domingo, fim de expediente da liberdade e eu pensava: "quantos reais deve ter aquele pai que sai na frente de sua esposa e de três crianças, como um estranho perdido? 2 reais e 90 centavos era o ônibus. Como terá ele conseguido este dinheiro? Dinheiro não é nada, mas é o pão de quase tudo. Do outro lado da rua uma prostituta exibia seu corpo, mais ondulado que o natural. Estava anormal, pois estava grávida e fumava. Naquele canto central todos ali pareciam gostar de cigarros. Porque todos transmitiam uma desarmonia em suas vestes e rostos. A feiura tem nome e codinome. Aqueles ali eram a lista da feiura mais feia. Algo me lambuzava o coração de tristeza e desespero. A realidade é maior que a teoria dos doutos conhecedores das estruturas sociais. Pensei em um culto pensador de renome internacional, com sua linguagem integradora: Terá ele conhecido um olho de furacão como este? Uma coisa é promover propostas em uma cidadezinha provinciana, outra coisa é imaginar uma possibilidade de integração com o cheiro de desarmonia de uma estação como esta. Integrar o que pra mim é caos é morte de objetivos. É fatalidade de estagnação. Ao meu lado, na fila estendida do ónibus que me levaria, uma adolescente com os dentes pretos de tabaco e maus tratos, joga um resto de sorvete no chão com papel e tudo, em seguida passa um ónibus e esmaga aquele papel no chão impregnado por uma massa preta que transbordava do esgoto no meio do terminal. Tudo era preto ou cinza. Pixado ou quebrado. Não vi planta e nem leveza vi o peso de coisas. Que se arrastam e deixam arrastar. Não quero mudar as coisas. Queria sentir-me mudado diante do que vejo. O que é a realidade? E a beleza? Onde mora meu animo? Enjoei-me do que vi e calei-me diante da imaturidade do que não entendi deste sentimento, pra além de um comportamento emotivo e OCULAR. Turbulência no corpo, estômago virado, olhos doloridos e a mente pirada sauda uma febre incomum. Nos lábios um mármore de frieza e no rosto o cheiro do temeroso silêncio do limite, tão próprio da intimidade da vida. (sem as devidas correções)