porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Estava eu caminhando e descobri de frente para um mercado um menino espreguiçado feito fruta podre no chão. Estava magro e parecia estar em outro lugar menos numa rua de uma cidade. A história deste menino não ouso imaginar. Mas estava ali. Alguns olhares miravam, outros paravam. Eu passei com meu carro e logo fugi daquela cena. Assim confesso a minha covardia de não tê-lo abordado e levado para algum lugar limpo, seguro e que pudesse ouvi-lo. Hoje os grandes centros são celeiros de coisas que não entendemos nem queremos entender. A verdade é que um maço de papéis custa empiricamente conforto e consumo. Não falo um discurso socialista ou éter de marxismo. Falo do cheiro e dos pés cansados dos andarilhos e dos doidos mendigos. Eu aqui perdido em compromissos de agendas que me fizeram. Enquanto isto deita na consciência de que um dia terei que morrer e estarei desencarnado da possibilidade do fazer. Atualmente faço e pratico tantas coisas como se fosse um ator sem brilho ou sem protagonismo numa cena. Até mesmo eu que assisto e atua cansei e não vejo motivo de fazê-lo. O que é a vida? Como admirá-la ou refazê-la a cada esquina, letra e pensamento? Tanta confusão que atravessa os olhos e mergulha o sentimento em tensão e tesão infinito. Somos educados ao incansável procurar, como o movimento de uma relação sexual (engoliu ou aprisionar o outro dentro de um órgão), mas a impossibilidade é ontológica e isto sabemos, mas não podemos sê-lo em neurônio, pele e osso. A cidade é uma matemática de fugas e irrealidades que nos predispomos a não pensarmos e nem agirmos. Somos a morte do índio e o arroto de indústrias, criadas para ao acumulo monstruoso de alguns mercenários e canibais de vidas tantas. Há tantas coisas para se meditar e tantos remédios a jogar fora. Tantas loucuras a entender e tantos normais e endoidecer. O relógio da Igreja bateu mais um padre comendo e um pastor limpando o ambão. Enquanto isto um ar condicionado é ajustado mais forte de fronte para a um menino perdido em si e esquecido pelos outros no degrau de uma padaria freqüentado por senhoras prostitutas, sujas, feias e muito pobres. Lá fora cheira álcool, aqui dentro é conhecido mais um grupo de pop rock, com baladas de amor e romance. Existem palavras que entorpecem e outras que deveriam trazer vida ou ressurreição, mas fazem parte de uma gramática, nada mais e nem menos, apenas um delírio e um elo de esquecimento daquilo que os olhos vêem, as mãos tocam e o nariz sente.