porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

HETERONOMIA


Você me surpreende em mim
aleijado com clarim
perfuma aridez e umidade
sem fadiga idade
amacia a dureza
dignidade de realeza
colore o desenho
cenário risonho
Artista sem tinta e som
do silêncio o tom
pastora do outro
da florestra és troco
Na voz do eu
minha anima te leu
declamou o nós
multidão e sós
pessoas em conjugação
palavra e ação
Amor é amizade de tarados
Soleira de confortos
eira e beira
Mulher e mineira
pele e coiceira
tubo de respiração
orgão do coração
roda gigante
algodão doce da mente
Lua plantada ao meio-dia
centro da periferia
Candenlário de inverno
àspero e terno
Água de verão
mudez e sermão
Manhã de minhas noites
Idiotices em odes

No altar de uma cama
filhos uma trama
Dedos de prosa
o prazer goza
Confusão de medos
labirinto de nervos
Brigas e contas
céu sem cotas
na estante filmes polidos
Romances e documentários
No armário roupas cheirosas
estendemos tardes gulosas
no varal toalha molhada
poesia é saudade penteada
Somos ersonagens sem script
tratado e relise
na lápide do passado acenos 
escada pra acerto temos

Na raiz do ontem o conserto
longe e perto
na construção suor
saliva e odor
na imaginação tudo
pé esquerdo sortudo
na mesa invenção
diálogo de redenção
Um dia, uma palavra
juventude nossa catedra
cada gota de telefone
projeto e codinome
miúdos toques
desejo em lotes 
Amor não é paixão
Emoção sim de uma razão
Se faz no calar de um falar
soprar e abraçar
machucado com remédios
olhos e cílios
reconhecer do outro
nem prata dem ouro

O que se detesta e se chama
há sempre um tema
cozinha e sofá
a esperañça é sempre um lá
A distância é caminho
não é separação, mas destino
O remédio é o confiar
destino é imaginar
amanhã é resumo do agora  
o depois afora
Juiza e ladrona
És Poltrona

Pobre segurança


Uma dolce poesia em imagem para a inteligente e sensível polícia do Rio de Janeiro, em especial, ao BOPE! (e que sirva como chapéu para todo tipo de segurança de Estado!!!)

Sem controle



Nossas crianças já nascem gente de outros
Quem daria alma àquilo que não nasceu?
Ser pessimista ou sonhador das frustrações?
Quem dará um antídoto a esta situação?
Não quero controle, quero invasão
Não serei marionete, mas urubu
No gelo serei fogo
Na sombra, sol
Na lágrima, riso
Tudo serei
Menos outro

Ah! se os desenhos fossem reais II


Nas páginas coloridas e nos enredos perdidos da elocubração de um gênio da imaginação. Ele revela no poder da expressão de fazer acreditar que, tudo é cômico, gracioso, como criança em noite de festa, mas na realidade, portanto, todo ser pintado, é um feio sem graça. A imaginação aliena imagem sem tempo e sentimento vulneráveis e instáveis. Desmistificar, é colocar as coisas no seu devido lugar, é dar valor a decadência, simplicidade, banalidade e esquisitice recheio da existência. A vida é trivial, mas magnífica pela generosidade do existir. Isto basta! Nem mais e nem menos, apenas o essencial.

Ah! se os desenhos fossem reais I


Nem espinafre refaz espírito e células! Será uma profanação, ou descrição da máxima decência da existência??? Rááá.

Relógio da vida


Este simples ciclo de um fazer a outro, nos limita e delimita numa brincadeira inconsciente, por isso, ditadora e assassina. Neste movimento natural cada segundo é o resultado de menos uma célula de possibilidade. Pare o relógio e saia do ciclo donde estás. A vida acontece na florestra do absurdo, montanha do ócio e na vagabundagem do ser. Relógio são para torres e catedrais. Nós precisamos é de pulso e de magia estranha, subversiva e transgressora, acordada como um aninal sem agenda.

Morreram, e daí?!


Às vezes é necessário fazer uma lógica contrária, ou melhor, inversa ao bom senso. Eis a notícia: "2 policiais são mortos no Rio de Janeiro por traficantes!" Nossa, que absurdo isto. Absurdo? Qual é o ponto de vista de onde parte esta exclamação? Qual ângulo desta história que miramos, focamos e nos escandalizamos? Será sobre o fato da morte nela mesma, ou seja, por 'alguém' ter morrido? Ou será a aparência do instrumento e a causa desta morte? Isto nos causa que tipo de sentimento: medo, insegurança ou pena? Ou um estado solene, bem elaborado e crítico de repugnância por este fenômeno? Ou será apenas uma consideração e comentário social do fato? Rio e o Rio ri de mim. Eu do meu sofá, num dia "normal" qualquer, fiquei intrigado, solitariamente, com um detalhe, que pra mim é essencial no desfeche e conclusão do ocorrido, deste quadro que se repete milhares e múltiplas vezes em nossa obra sociedade. A questão é simples: "Violência gera violência!", será isto um modismo simplista de idealistas?! Ou uma lógica esquecida na interpretação dos fatos vomitados pela realidade cansada, estrupada e cheia, transbordando de convulsões e contradições de fenômenos conflitantes? Pois assim como o estômago lança para fora aquilo que criou confusão no seu campo, assim é a violência para o cenário social, uma reação natural e necessária. O que se evita se explode. ISto tanto no limiar da psicologia subjetiva como na social. Não quero criar polêmica, mas justiça com o pensamento, por isso, afirmo publicamente aqui: Eu legitimo a morte destes policiais. Escândalo? Vulgarização? Partidarismo marginalizado? Descriminalização? Ridicularização? Não. Pois nós sempre legitimamos a existência de armas, como estratégia de força e enfrentamento de situações que a nossa epidérmica inteligência não sabe ler, lidar e concluir... Legitimamos aquilo que condenamos tautologicamente sem razão. A polícia é a força do Estado, e os traficantes/ "bandidos" (como são chamados) são meramente a força da milícia, uma outra forma de governar. Tudo que se agrupa tem um poder, não pela quantidade, mas pela idéia movedora que é criada como cola e comida para um coletivo. Agrupar-se é militar-se, é impor-se a inconsciência do circo da história. Porém, nestes dois exemplos, do Estado e dos Crimonosos, ambos estão baseados na liberdade de associação, os problemas gerados não estão neles em si, mas são só instrumentos, meios anexos  e ofertados pela nossa justificativa natural para o armamento. Armar-se é preciso, o contrário seria uma falácia. Eis uma afirmação impossibilitada de não-existir. Quando firmamos esta prerrogativa, anulamos outras possibilidades, pois resumimos tudo num objeto-gesto. A arma é sinônimo de morte, não existe outro princípio. Ué, mas não falamos de segurança, proteção do bem para a sociedade? Eis a contradição, é como se estivéssemos falando de cura e ao mesmo tempo implantando tumores no corpo enfermo. Não sabemos lidar com a possibilidade do diálogo e de estratégias capazes de construir mudanças processuais, históricas e habituais, em que o tempo é parceiro e companheiro desta iniciativa. Hoje temos uma grande massa despolitizada e irracional, movida pela lógica do caminho mais curto, porém, nestes caminhos sugestionados pela massa, e manuseada por uma minoria que lucra, os pés são amputados tanto de quem compra, de quem vende, de quem usa e de que se avizinha desta situação. Um verdadeiro símbolo disso são os terrenos minados até hoje da Angola e outros países. Uma verdadeira anomalia a terra enxertada pela ignorância artificial do ser humano. Aquela que é mãe de todos, serve de tapete para mortes e amputações. Do pó nascestes e de uma mina te matarei! O ser humano é o único que sufioca e invade a identidade dos outros. Conquistar é o seu sentido maior, que está acima da vida e da morte, por que é meio em si mesmo, por isso, patológico e alienado. Porém existirá um ser humano capaz de transcender a fatalidade da violência bélica que assola os quatro cantos e o centro do planeta terra? A mesma arma que constrói a histór,ia de sangue em muitas regiões da África, é a que está nas nossas centrais públicas e legitimadas de "segurança" em Resende ou em São José dos Campos. Enquanto existir este processo de naturalização e criminalização não dos meios e instrumentos, mas sim, das pessoas, eu assisto e assistirei a este jogo de barbárie, não chorando ou vigiando por ninguém, mas como expectador de um jogo, fico na ânsia de que alguém desista de jogar. Esta é minha inversa razão aos fatos que consomem os comentários pulpitados na sociedade, sempre televisiva e espetacular. Nossas opiniões são virtuais, a realidade é outra coisa, às vezes mais complexas, porque tem um toque de simplicidade e nada de sensacionalismo. O sensasionalismo é fabricado pela magia das palvras e imagens nelas mesmas, é uma criação imaginativa, não investigativa e reflexiva. Na realidade, para a morte, não existe nome, codinome, cargo ou função, polícia e rebelde, fazem parte de um mesmo homicídio e tragédia. Ambos vítimas de sua prórpia capacidade de acreditar num elemento cultural e alienador. Quem mata e quem morre? A morte iguala a todos na tragédia com base intrínseca a um terceiro elemento causador: a ARMA. Os policiais morreram, e daí? A mesma mão que mata, mata-se.