porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

além do horizonte


Estava deletando os meus e-mails achei este pequeno texto escrito em outubro do ano passado, enquanto viajava de Porto Alegre a Recife...

Em um vôo sob os Brasis, parei para pensar na minha vida. Tenho uma conta salário boa para o gasto confortável de minha barulhenta e desorganizada rotina urbana, mas sou empregado sem causa. No trabalho vivo na tentativa democrática do fazer. Porém, o que sobra são os poderes encastelados e ministeriados de muitos. Olho para baixo e vejo terras, contornos diversos. Perco-me a pensar nas matas e na possibilidade minúscula e utópica de esconder-me, revelado para a natureza e escondido para a civilização, num canto de sossego verde e biodiversificado e com medo de trovões. Hoje queria descobrir uma fórmula de vida sem sombras e nem dobras. Tenho que dividir meus pensamentos entre o relógio do trabalho e minha vida esperada, desejada, atemporal. Vivo para as coisas e por elas exigo de mim pensamento, suor e tempo. Estou chegando aos meus 30 anos e o Plano Estratégico, assim o chamam, deste trabalho vai até os próximos seis anos. Confundo-me com agendas e reuniões, meus pensamentos são abstrações de resoluções inúteis. Toda Organização, exige mentes e pernas manipuláveis. Uma vida esticada pela funcionalidade de uma trabalho, assim sinto-me. Será vida, ou algo nomeado, que se assemelha confusamente e enganosamente com a morte. Hoje um conhecido falou comigo por telefone e depois de um longo período retalhou de forma sincera e amiga: "O que aconteceu com vc? Está com as palavras secas e frias, como diálogo de domingo, flagrado pelo olhar televisionado de um canal popular ou declamado num sofá com um copo de chopp morno pela mão que o segura". Pensei em criar um ditado: copo quente, cabeça distraída em si mesma. Será que engoli a vida ou fui engolido por ela, ou melhor, uma parte dela.