porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

sábado, 27 de março de 2010

flactus vocis

Se as palavras fossem úteis e movedoras de qualquer ação (intencional redundância) a ONU não estaria falida publicamente e os padres não estariam esquizofrenicamente roucos. Palavra pela palavra é doença. Alguém já tentou falar dialogicamente com um adolescente desta época ou com um idoso envelhecido? Blábláblá. "Douta Ignorância", como dizia Nicolau de Cusa...ou poderíamos dizer categoricamente e literalmente, ou seja, no sentido prático da palavra: vento de som!

PERCEPÇÃO CONCRETA

Ontem andava de ônibus, apertado feito sardinha na loja da esquina de uma periferia vertendo de gente e de sóis enormes. Enfim, inferno metrificado. Olhava para as ruas e construções peguntando-me: "Onde está o direito da terra e de suas biodiversidades?" Eu via concreto, ferro, cerâmicas, plásticos e fio, ou seja, coisas entulhadas uma sob as outras, como tapete de ferro velho num campo de trevos. Não existe razão para a insanidade bárbarie e psicótica que confeccionamos diante de nossas próprias penas. Almas penadas! Somos assombrados por delírios e medos, ergo-me na frente de mim mesmo, feito defunto realizando sua autópsia. Estarei vivo para isto, ou serei um lapso entre imaginação e toque de aleijado? Não sei a origem e o princípio com que nos perdemos numa lógica sem barranco e nem porto. Quero dizer a mim mesmo e ao meu filho: "Vamos embora! Saiámos e procuremos um lugar para plantar, colher e passar a noite ao relento, ao som de uma lua melancólica. Falaremos de nossas infâncias e dos nossos amores de porões. Dormiremos tortos e com os pés gelados numa rede pequena em gigantescas varandas.  Quero falar para o meus netos dos medos reservados no ato da vida, das insônias e dos calafrios frente aos velórios. Não quero ter jardim, quero ter uma florestra, quero ter um riacho e não um quintal. Queria ver minha roupa surrada, sem cor, apenas com um sentido de existir - protejer - como roupa de Francisco de Assis. Não saberia relatar feito diagnóstico o que aconteceu com os meus vizinhos, com minha vida, com a vida dos meus. Serei um ser a mais neste metrô de metro, nesta rua nua, nesta gente entificadas em coisas sem coração e mente. O ônibus chegou no ponto, lugar de chegada, minha viagem permanece algemada com os meus deveres. Sai correndo (ATRASADO) para assentar-me numa reunião. Trabalho mais um dia. Sobrou-me esta folga entre um sono e o barulho da rua, que é palco de adolescentes e jovens ao som de um Rap, verdades de cores e sons, nada mais e nem menos. Enquanto isto a atelevisão na sala esquenta e na cama a amada dorme, cansada pela canseira embutida pela carnificida de mais um dia nesta cidade.