Aqui na cidade grande, o suor é parte do dia
Já o trabalho resume a fadiga
A rua é passagem de pneus
O prédio desliza concreto
O chão bebe esgoto
A chuva lava escadas
A escola escondi gente
Lá onde a criança não aprende
A igreja morre gritando
O marujo está no boteco
Samba sem rima e remédio
O analfabeto é um leitor
A senhora dormi de desgosto
na cabeceira um santo em dorso
O mar subiu e a florestra diminui
O sapo é raro de se ver
Vagalume quero ter
No fio o tênis balança
A letra serve pra dizer nada
A garaganta goteja saliva de fumaça
No placo mais um novo holofote
Papéis são lixo
depende do verbo que reciclo
Aqui faço ponto, encerro tentantiva
Há tempos não digo inspiração
Palavra inexistente é salvação
O punho soluça um instante de respiro
porta quebrada
Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.