porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Humano, uma patologia essencial


O ser humano sofre mais pelos seus atos e pelos atos dos outros do que com a vida em si (copórea e ambiental). Somos mais as relações com os outros, que a própria materialidade da existência. A vida é um complexo psiquico instável e egoísta que transpassa por todos os afazeres e contextos. Hoje os ambientes de trabalho coletivo, empresas, organizações e outros, são reflexos deste estado de patologia!

Andrógena realidade


O que é o capital se não a metrificação das coisas e da relação a partir do resultado do consumo, logo, do lucro em espécie. É incrível que muitas cidades não têm razão de existir por si mesma, ou seja, pela sua capacidade de existir enquanto sociedade em seus mais puros intuitos de relação uns com os outros e trocas espontâneas e necessárias. Porém, pelo contrário, existe uma incógnita que ronda a razão de tal existência autêntica.

As cidades banham-se de uma sujeira de coisas, se transformaram em sucatas de um aparelho que suga até o último momento a naturalidade, a natureza mais primária, do ser humano e do resto da “comunidade de vida”. Existe um “OUTRO” invisível que rege as vidas e suas rotinas. Nos países mais próspero no que se refere a mercado financeiro, é exuberante as luzes, fumaças, lojas gigantescas, monumentos do poder consumir. Já nos submundos existe também uma explicitação de tal poderio, porém, de maneira desorganização, sem limite e sem o polimento necessário de um capital de giro. Mas neste ultimo caso é mais triste, loucamente estas pessoas tentam alcançar um objeto que nem eles sabem ao certo o que é. Transformam comunidades em lixo do consumo, com produtos coloridos, desajeitados, inúteis frente a paisagem cultura e natural de seu território.

As cidades se transformaram em amontoados de pessoas que tentam sobreviver e serem vistas. A essência da existência está na capacidade de criar e ser reconhecido. Os entorpecidos nos becos são egos estourados e incapazes de lidar com tamanha missão de sustentabilidade de um status quo, alienante, ou melhor, quero sem saber por que quero! È engraçado que existam poucos ou quase nada de estudos sobre a inutilidade das grandes cidades. Obvio que este discurso e perspectiva analítica não deve ser explorada, pois a inutilidade é a peça do utilitarismo capitalista. Você existe por consumir, ou melhor, você existe para consumir. As pessoas trabalham, caminham e pelo caminho não há o silêncio das flores e florestas ou abismos, mas sim, há o diálogo incessante das vitrines. Em casa você não tem direito de apenas respirar ou apenas ver o horizonte, de fronte a sua casa tem um outdoor e na pele de seus horários ociosos a tela mono-cultural da tv.

Enfim, as cidades são como uma realidade andrógena daquilo que um dia foi a revelação de uma vida, construída no ritmo e na aparência de sua máxima realidade. Não acredito mais no principio do “bom selvagem”, mas há de se denunciar a esquizofrênica mania de construirmos e vivermos em cidades, que é o símbolo da alienação matriarcal do capitalismo, ou seja, homens fortes manipulam e depositam interesses frente a infinitas vidas sem voz e com muita distração. Neste exato momento passa defronte ao escritório em que trabalho das 8h às 21h(dependendo dos grandes assuntos), uma senhora curvada, com os pés pretos de algo que seja sujeira de carros ou algo parecido, rumo as dezenas de sacos de lixo, com algum material reciclado. Aqui vejo homem engravatado estacionando o carro numa garagem que lhe cobra (15% de seu salário metricamente suado). Desligo o computador, pois preciso descansar amanhã preciso chegar cedo, por isso preciso descansar, haja visto que o trânsito está congestionado no meu trajeto.





Wari, um povo nação



Ontem tive a oportunidade de conhecer a cidade, ainda não desvelada totalmente, do povo Wari, os que antecederam a tão cultura Inca.

Um povo de uma geografia urbana e democrática, com um refinado talento para o talhamento de pedras, modelagem de cerâmicas e de artefatos em metal e prata.

Porém, o que sobrou deste fenômeno humano foram restos de pedras e destroços de cerâmica espalhados por todo um sítio arqueológico. A história explica e revela esta parte que muito se desconhece principalmente em terras estrangeiras, que justificam o espírito de luta e apaixonado deste povo de pele morena e de mãos hábeis para as coisas das terras.

Quantas culturas foram esmagadas e aniquiladas pela coroa espanhola? É admirável e revelador que existiam técnicas invejáveis de hidráulica e de construções avançadíssimas. Sem contar com a riqueza histórica e lendária concebido nos vales, montes e planícies que se configuravam em pequenos aglomerados de gente e de cultura, verdadeiros poços de conhecimento feito em técnica e crença. Tudo isto foi enterrado e diluído e evaporado junto com o sangue desta gente.

Tudo isto, um capítulo desconhecido por grande parte da humanidade, principalmente aquelas que choram por suas colonização. No caso do Brasil, somos parte de uma América, mas não das dores da colonização espanhola, isto faz com que se tenha uma certa distância e desconhecimento desta vitalidade histórica. Só se sente parte quando sofre e conhece junto, isto é companheirismo, “comer juntos” (con panis).

Ao andar e vasculhar estes lugares não se encontra apenas ruínas e pedras, que um dia formaram parte de um mosaico de um povo, mas sim encontra vestígios de uma história de lutas e opressões que valeram a própria vida desta gente. Se nós nos depararmos com este cenário histórico entendemos e muito de qual América estamos falando e ainda vivemos. Hoje esta gente representa o exílio, e a marcha em pobreza e derivação de um processo de morte e de escárnio. Além, disso depois da revolta de Ayacucho, em que o povo, coronéis e soldados lutaram de maneira desfavorecida contra o exército espanhol, em que o povo local foi à luta com pedra e paus, e assim, venceram a tão histórica batalha, o Peru teve que pagar à coroa espanhola muita riqueza, pelo “capital” de conhecimento que eles haviam deixado (segundo versão do colonizador). Bem este foi o acordo sugerido da Espanha para deixar em “paz”, sem a pretensão de poder e de subjugação, esta nação.

Duas estranhas situações rondam esta história:

A primeira, é que a Independência da América se deu pelas mãos dos campesinos, com sua força, coragem e simplicidade. Este é o lado heróico e emblemático para o engrandecimento deste povo.

A segunda situação estranha, foi o fato da coroa exigir bens em troca da retirada de suas tropas e estratégias, com a justificativa que seria um prejuízo inigualável tal atitude. Mas que riqueza eles deixaram? Este povo lhes ensinou diversas técnicas e além do mais foram exterminados culturalmente e corporalmente de seus contextos. Obviamente, que esta é a parte irônica revoltosa para uma análise nos nossos tempos.

Enfim, parte de um história que quero contar para os meus filhos e inseri-los neste contexto, para que um dia tenham coragem de levantar-se e argumentar contra tantas barbáries de opressão e arrogantismos culturais de pessoas que destroem para construírem seus egos, banhados de uma psicótica crença. Salve o povo Wari e suas almas tecnológicas, lendas, religiosas, históricos, que desta terra brote vida, para estas vidas que sobraram e tentam sobreviver, com o resto que sobrou em feridas sociais, culturais e psíquicas. Termino, com uma frase solta e que diz por si mesma, sem excesso de palavras: A doença social, estigmatiza e molda a psique e o corpo, como uma artista da pobreza e falência em todas as dimensões.

Não faço aqui ufanismo, sei das leis e contradições também deste povo, mas nada é mais opressor do que amputar um povo a sua liberdade de ser e de fazer a sua história.