porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

VONTADE.


Ontem, numa conversa solta e típica de um tira a gosto do almoço dominical e familiar, o meu tio, ao longo de seus anos de estrada da vida, me fez a seguinte questão: “O que falta para o povo sair da miséria?” Abruptamente me lancei a responder que, “Isto é um fenômeno que extrapolava a falta de oportunidade de um emprego ou alguma ocupação rentável. É um problema de políticas públicas etc”. Nesta natural e óbvia resposta fui logo flagrado com outra dúvida estomacal lá do âmago, de meu herdado parente: “Não adianta dar emprego a esta gente, pois eles vão querer outras e outras coisas mais. Tenho experiências concretas disso. Nunca se sacia a necessidade de um pobre”. ‘Pobre!’ Conceito tão usado na boca de tantas gentes e dentistas e eu, neste mar de pensamentos, me sentindo pobre de palavras e de idéias conclusivas e sintéticas. A questão social é uma situação de “idéias”, ou seja, um governo se baseia sempre num imaginário de poder, intervenções ou outras coisas relacionadas no campo do mando e interesse (seja qual for). Mas esta sessão, para não falar em fuzilamento, de questões, tão simplórias para os tratados sociais e políticos acadêmicos e oficiais, me fez enminhocar por muito tempo algumas reflexões que cabe estreitamente aqui. O que falta para uma pessoa e/ou realidade empobrecida?! Dinheiro? Oportunidade? Formação? Assistência?

Incrivelmente algo apareceu no meu entendimento, como andorinha no fim de uma tarde ensolarda, depois tormenta, chamada de VONTADE. Esta palavra não significa aquilo que imaginamos enquanto, vontade voluntária, ou melhor, voluntarista. Mas sim, a Vontade é motor de anseios, desejos, construtora de cenários imaginários que lança-nos a projetos, atos e sentimentos. A vontade é o que move o estagnado, dá caminho para os pés, coração parao orgão, idéias para a cabeça e olhares para os olhos. A grande falência e morte da pobreza não está no dinheiro ou num afazer mecânico intitulado de 'trabalho', mas numa característica intrigante que chamamos de Vontade. Somos parte de um conjunto de realidades invisíveis que são mais concretas e maiores que a muralha da China. Nos fazemos em base a nossa vontade: sonhamos, esperamos, anseamos, sofremos, inquietamo-nos, desesperamos, projetamos, fazemos, desfazemos, construimos, desconstruimos...somos uma vontade que nos lança, move e nos faz! Como dar Vontade a um ser-humano? É possível doar sonhos, desejos, projetos para uma pessoa? Como dar vida aos mortos? Eis a questão social, um probelma plenalmente existencial, antes de antropológico e sociológico, ele é um aborto fenomenológico. O probelma ultrapssa sempre a sua aparência, por isso, é um complexo. Minha mão pesa nestas teclas, cansei de digitar enjoei-me com esta reflexão. Será isto um sintoma de minha incerteza e triteza, frente aquilo que ninguém quer pensar e se deixar questionar? A pobreza e desiguladade é produto de um outro corpo, sem anus e estômago, mas existente.