Quem sou eu? Pergunta tão obvia e tão fresca na minha pele e do lado esquerdo do peito. Existem sentimentos que nos atravessam feito lamina fina, de tão fina é invisível. Estou numa mesa qualquer num bairro distante e sinto-me longe de tudo que me dá brilho, força e motivação. Estou como um palhaço sentado ao lado de fora do circo ao final do espetáculo e com a soma infinita de um cansaço de fazer os outros rirem. Enquanto isto minha maquiagem esfarela-se em suor. Peguei o telefone e vasculhei alguma alma conhecida. Parei num número de cumplicidade e história da infância, adolescência e juventude. Ao ligar caiu-me a verdade parcial, toda verdade é parcial, para não dizer a parte de uma hipótese, ela não conheceu a minha voz e nem imaginava quem era. Eu disse, “sou o Fábio”, ela em um sobressalto perguntou, “Que Fábio?”. Neste momento restou-me apenas uma memória de quem hoje eu era. Tantos amigos, tantas vidas e toda esta história ficou parada de frente de um muro que hoje separa a minha vida presente de uma vida passada, feita como um museu que nem de cera pode ser, apenas de imagem soltas e meio apagadas de um passado que esqueceu de construir a sua própria ponte para o presente-futuro. A solidão é a voz sem retorno, é a mão sem a carícia ou é o rosto desconhecido de nós mesmos. Sei o que fui, mas não sei o que sou e o que serei. Cai sobre mim mesmo um peso de meus dias, que se perdem no labirinto do desejo (ou melhor, da falta dele) e dos compromissos inúmeros somados numa agenda em uma mochila que carrego, feito montanha triste embrulhada.
porta quebrada
Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.