porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ah! se soubessem.

Quando saberão que não faço poesia, mas nervos
Que não faço sabão, mas o prato principal!

Busquei




Busquei, revirei móveis para saciar-me de um sentido escondido
No céu fumaça ou neblina, nada dizem os astros e os jardins
Busquei algo, mas o barulho dos carros me congestionaram
Saí de mim, fiquei aqui e perdi-me lá mesmo
Sobrou-me livros soltos nos quatros cantos
A noite está quente e afaguei uma lágrima
Lembrei-me do mar, tão longe
Ali passa mais um avião
A tv chora um cantor
No chão os pés
Olhos vi
Suei
Ufa
Ai
a

Passou


Hoje um vento trouxe um leve contorno de pêlos dourados que mergulhavam numa pele refrescada por um maciço suor. Ombro como ponta de uma obra esculpida delicadamente por um gênio expressionista. Imagem única. Fechada num canto da mente e arrebentada nos poros do pé e da nuca. Passou com energia de férias, arrastando olhos e sentidos, saliva de delírio, com salto raso de chinelo e pomba traseira arredondada. Vestido, tecido em segredo e em marginalidade. A sensualidade reside nas beiradas longínquas da existência das gravatas e dos holofotes. O que é singular mora no cenário que não é visto e do enredo não narrado. Uma marca tatuada no tornozelo deslizando como história em quadrinhos de uma vida em bênçãos. Salve a vida, frente ao espetáculo dos lábios desta menina, donzela, coisa e atriz de algum lugar distante, mesmo que more no prédio à frente. A beleza é elemento de agarramento, corpo de penetração, cheiro de tesão, tensão de saudade. A dor do artista é capturar e lembrar o passo que se atravessou dentro de si, como cólica existencial. Nunca respirei um gigante arrepio dentro de mim, que me lançasse às palavras e pincéis devorando imagens e cores ofuscando vorazmente a ausência e o fim-limite. Queria aprisionar aquela imagem, ou bebê-la e depois uriná-la até esvaziá-la de mim, mas a beleza é o vapor e não a lenha, é a subida e não a escada, é o calafrio e não a pele, é o desejo e não o gozo.

Molecagem divina?


Max Ernst – La Vierge corrigeant l’enfant Jésus sous le regard de trois témoins : André Breton, Paul Eluard et le peintre (A virgem espanca o menino Jesus vigiada por 3 testemunhas: André Breton, Paul Eluard e o próprio artista) (1926).

Bela imagem! Quando eu era adolescente um amigo-mestre me falou, claro que parodiarei a minha memória: "É importante tirar do pedestal as imagens que construímos dos outros. Sempre esperamos dos outros atitudes extraordinárias. Transformam-se em mitos - longe do que são e deveriam ser no coletivo rotineiro. Esta atitude pedagógica torna-nos pessoas coladas e impregnadas com as possibilidades e causas reais dos fatos e fenõmenos da existência. Com isto, nos emponderamos do conceito-prático de transformação".

Nada é o que imaginamos, tudo se faz na simplicidade e na lógica óbvia de um absurdo, que instimos em desprezá-lo e deletá-lo de nosso chão da razão. Jesus é divino pela sua humanidade e não o contrário! O resto é masturbação de conciência alienada.

Imagem perfeita - confundo-me com a visão deste pintor.