porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sei mais do outro que de mim mesmo

Escuto falarem e também falo de outros como se fossem sempre pessoas a serem comentadas e melhoradas pelas julgadas orientações armazenadas na mente e expelidas pela língua. Ao aproximar a nossa consciência da vida dos outros temos a tendência de maldizê-los com palavras conclusivas ou interpretações absolutistas. Já dizia o poeta-músico: "De perto todo mundo é estranho!" Não existe verdade ou verdades da história, cada frase(s) ou premissa(s) sempre será uma centelha de poeira, que muitas vezes cega os olhos e outras vezes torna-se motivo de camuflar a realidade. Mas é certo que esta poeira sempre incomoda, e perturba feito unha encravada. A ciência cria hipóteses e constrói a partir deste fundamento diversas realidades abstratas, mas todas “possíveis”. Nas ruas, casas e empresas as pessoas herdaram esta cultura e transferiram isto para o palco de suas relações. Sempre existiu o prazer inconsciente de uma fofoca, de um comentário ou de uma interpretação da(s) vida(s) alheia(s). Ao observarmos o passado identificaremos que grandes mentiras foram plantadas para se atingir um objetivo estratégico em X situação de guerra ou de conquista. Mas isto era uma tática consciente, manipulada. E o que dizer deste costume tanto devastador do “falar dos outros e de suas escolhas e posicionamentos”? O que rege esta voluntária e corriqueira atitude? Donde brota esta necessidade? Terá algum fundamento fenomenológico para o ser humano? O silêncio e a contemplação são elementos fundamentais para aqueles que querem descer do carrossel cotidiano do fazer e sentar-se na postura do ser mais autêntico e saudável, sem os doentes preconceitos ou arrogâncias do querer saber, sem saber. Imaginamos e cremos tautologicamente que sabemos do(s) outro(s). Mas quando falamos dos outros, fugimos de nós mesmos. Aquilo que se diz com certeza, se mente sem razão. O ser humano é isto: uma pista de corrida de diversas vidas, enquanto isto deixa o seu carro da existência enferrujar e estragar na curva de largada. O pior é que ninguém governa a vida de ninguém, mas se meter no volante do outro pode causar diversos tipos de acidentes, alguns fatais outros leves, mas danificadores. Calemos nossas bocas e governemos a nossas vidas, com o devido silêncio humilde (derivado de húmus), a oportuna palavra sempre aberta e o discurso não-dito.