porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

domingo, 30 de agosto de 2009

Razão filosófica


VERDAD


"Hay hombres que luchan un dia y son buenos/ Hay otros que luchan um año y son mejores/ Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos/ Pero hay los que luchan toda la vida/ Esos son los imprescindibles"

(Bertolt Brecht)




A/cerca da sociedade atual

Onde se encontra, se é que existe, o limite entre o que é coletivo e particular nos centros e periferias urbanas? Hoje o que chamamos de "metrópolis" e até mesmo daquelas cidade de pequeno e médio porte, professam a crença no indivíduo, como um ser ilhado numa família e necessariamente relacionado ao seu habitat laboral. E a declamada e unânime profissão da crença da inexistência da comunidade, como território e espaço de possibilidade de conquistas e de um desenvolvimento baseado em interesses e partilhas. O vizinho é um ente indiferente, inexistente pelo corpo de nossa atenção e necessidade. Uma rua não representa mais um espaço de troca de perspectivas e de interesses comuns, mas apenas um risco de concreto que pavimenta o "meu" acesso e o "seu", enfim, um acaso geográfico. Neste novo cenário de relações, o número presente na faixada das casas e a caixa postal de um coletivo cahamado "família", têm a sua essência em si. Não importa se estou no Rio de Janeiro ou em Curitiba, a uniformidade de relação é a mesma. Os sabores perdem cada vez mais as suas peculiaridades, singularidadese logo leque de criativas sensações e lógicas elaboradas pela experimentação. Os indivíduos se coletivizaram, massificaram escolhas e desejos, se trasnformaram em mutantes do poder. Queremos "coca -cola ou guaraná". Não ousamos criar saberes/ sabores e bebidas. Quem já tomou banana com manteiga e melancia? É ruim, indigestivo? Mas todos os produtos tem um veneno codificado em seu corpo. Como dizia Fernando Pessoa, o primeiro construtor de frases de marketing: "Tudo o que no início se estranha, com o tempo se entranha". Uma outra premissa desta reflexão está em que tudo o que a sociedade produz é relacionado com ter e gastar, onde o "comer" é verbo que transcende a sua realidade, se trasnformando numa antologia: Queremos comer tudo e todos - Logo, somos artefatos para o consumo. Apenas isto. Servimos para consumir, como bichos primários sentimos cheiros para comprar, degustamos para sentir mais vontade, vomitamos para nos esvaziarmos. O desejo pelo desejo. O querer pelo querer. O comer tem um caráter, em sua origem, uma questão de necessidade, hoje é um capricho e um passa tempo. Quem transformou a comida em produto de apreciação e que custa dinheiro? Tudo foi manufaturado. Quanto custa a cor inigualável do Caqui? E a aguá fresca da fonte, hoje blindada pelo rótulo de grandes empresas e donos ? Neste estado o ser humano se transfigurou em um ser-obejto, fundamentado pela sua relação com o mercado e não mais com sua conquista de territórios de histórias, que são equações de dores, sonhos, delírios, sofrimentos e esperanças com o mundo e os outros semelhantes. Não sonhamos mais porque nos sentimos esmagados pelo acumulo solitário de nossos anseios e temores, mover-se é impossível. A massa é muralha da impossibilidade. A consciência coletiva é coisa de livros e pensadores de uma época idealista. O que farei frente a injustiça e a mão invisível e gigantesca que manipula e destroça a rotina do coletivo subjetivo chamado sociedade? Eis a fórmula dantesca desta apática e paralisia de causa que chamamos hoje de alienação.

Independência ou morte!

Vida de cimento. Vida de proletariado, perdido entre a mão e a produção. A miséria da cidade está nas pessoas. O verdadeiro lixo está na mente daqueles que se intitulam gente. Existe possibilidade de reciclagem? Há possibilidades que não são reais, quando a alma deixa de existir e quando o brilho foi ofuscado pela falência. Existirá um ponto de cura? Não há remédios para defuntos. Torçamos pela brisa e pela catástrofe ecológica, talvez ela regenere aquilo que homens e mulheres perderam ou deixaram-se morrer. Proclamo isto, porque nem projeto e nem políticas mudaram aquilo que nosso corpo já diagnosticou e nossas idéias professaram. Pessimismo ou modo de esperança realista? Nem Marx e nem Buda sabiam da pedagogia regerativa do cosmos na imanente ignorância humana e social. Independência ou morte? A espada do império enferrujou e sonhamos com um terreno de supremacia e justiça. Prefiro a morte, quem sabe assim sobra-me um pouco de vida e uma lógica natural, sem revoluções, leis, consensos e carteira assinada: faço prece pelos pés carregados de frutas e o rio cheio de seres mais relevantes que o bípede de barbas e seios - uma aberração do intelecto.