porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Cli-chê

"Contra ti se ergue a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra.
De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas
Porém,
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece."

(Che Guevara - Poesia de Sophia de Mello Breyner)


Atrás de uma juventude existe sempre a mentira da totalidade, porém, esta totalidade atinge a parcialidade possível que lhe é cabível. Ou seja, o éter do impossível constrói o passo e o toque do possível. Che Guevara, nem mais e nem menos, apenas um homem que acreditou, falou e fez algumas coisas no local singular de um país e de uma nação. A história não se repete e não tem realidade elástica. O que este homem fez em um lugar, frustou-se em outro por não estender a seu impacto imaginado. Ideologia e prática são duas receitas que se permeiam, mas não se fundem. África não é Cuba, Cuba nunca foi Argentina e a Bolívia se engendra num tapa na cara da fantasmagórica força revolucionária. O ser humano se constrói na simplicidade de uma rotina emaranhada de medos, frustrações e necessidades. Quem já leu a história do Che exorcizando as fantasias históricas e, até hoje, disseminadas pela matemática do acreditar e projetar? Jesus, Buda, Betinho, homens ressuscitados pela voz de um coletivo dissolvido que tem como segurança a crença no diferente, no herói, no mártir e no universal. Nesta melodia o lucro supera a imagem. Propõem-se cenário de medidas que acalentam a necessidade da transcendência diante do trivial, tosco, bruto, imaturo, feio e retardado. Estampa, coleri, desenha e vende uma imagem daquilo que se espera na madrugada de um dia sem grandes feitos, nem grandes anseios. Somos feitos de uma ocacidade de acontecimentos e do espetáculo mais primário do fenômeno do existir. Comer, dormir, caminhar, conversar, desbravar a floresta do dia-a-dia se torna numa atitude heróica do anonimato sentido do ser. O consumo é uma imagem de si mesmo, que gera o anseio do ter pelo ter, onde a matéria retarda a lógica desvinculada de uma linhagem histórica, não importa o que se produz, importa o que se vende. Este é o clichê da sociedade atual, uma aparência na necessidade de refência da humanidade. Cli-chê do cosumo e da tentativa de afago de uma complementariedade na crença em algo.