Ontem comi numa mesa de crianças sem pai, mãe ou quem lhes cuide
Meninas e meninos com olhares baixos de tanta dor e cruéis históriasCorpos marcados de cicatrizes, mãos fortes pela idade que registram
Ali tinha uma menina quase bicho, misturado com a meiguice da infância
Outro menino com o dorso feito agricultor e testa em sol feito operário
Não sei explicar o sentimento e a percepção que obtive naquele momentoVontade de curar as feridas observadas e as invisíveis tocá-las feito médico
Quanta coisa acontece sem que nos depararemos em nossa rotina tão nossa
Quantos abraços esperam da gente e cuidados em idéias e ações semear
O planeta está banhado por lógicas mortais, não da natureza, mas do que fizeram dela
Somos capazes de construir casas, ruas e edifícios e nem pensamos qual a melhor escolha
Fazemos coisas desnecessárias como autômatos, enquanto isto a vida está ali em movimento perverso
A vida está parada, observando feito animal ferido em jaula sem porta
No leito dos dias crianças são esmagadas e adultos são enterrados abruptamente
A maldade é aquilo que fere e mata, nada mais, a mesma mão que planta, destrói
Donde vem a matemática das desigualdades e dos sofrimentos?
Quem inventou as doenças psicológicas e a dores inexplicáveis sem ferida?
Ou pensemos, ou não sobreviveremos aquilo que nossos vizinhos e parentes nos destinaram
Somos um povo de tantas línguas e trejeitos que soma sempre estranhamento
Contornos de culturas e de histórias e de equívocos consensos ou ditaduras
A América é diferente da Ásia, mas ambos sofrem e sobrevivemQueria saber pintar e classificar os comportamentos e assim dizer o conto universal
Mas somos inúteis no que se compete à memória integral
Cantamos, escrevemos e gritamos, mas tudo é apenas uma palavra seca e estéril
Na montanha em pedras de uma cidade andina vejo camponês a caminhar devagar
Na rua de frente à loja, menina joga lixo na grama de um destruído jardim público
Cachorro late e vasculha os detrimentos do que foi uma refeição da festa de criança bastada
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