porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

domingo, 20 de março de 2011

andes do mundo
















Ontem comi numa mesa de crianças sem pai, mãe ou quem lhes cuide
Meninas e meninos com olhares baixos de tanta dor e cruéis histórias
Corpos marcados de cicatrizes, mãos fortes pela idade que registram

Ali tinha uma menina quase bicho, misturado com a meiguice da infância
Outro menino com o dorso feito agricultor e testa em sol feito operário
Não sei explicar o sentimento e a percepção que obtive naquele momento

Vontade de curar as feridas observadas e as invisíveis tocá-las feito médico
Quanta coisa acontece sem que nos depararemos em nossa rotina tão nossa
Quantos abraços esperam da gente e cuidados em idéias e ações semear

O planeta está banhado por lógicas mortais, não da natureza, mas do que fizeram dela
Somos capazes de construir casas, ruas e edifícios e nem pensamos qual a melhor escolha
Fazemos coisas desnecessárias como autômatos, enquanto isto a vida está ali em movimento perverso

A vida está parada, observando feito animal ferido em jaula sem porta
No leito dos dias crianças são esmagadas e adultos são enterrados abruptamente
A maldade é aquilo que fere e mata, nada mais, a mesma mão que planta, destrói

Donde vem a matemática das desigualdades e dos sofrimentos?
Quem inventou as doenças psicológicas e a dores inexplicáveis sem ferida?
Ou pensemos, ou não sobreviveremos aquilo que nossos vizinhos e parentes nos destinaram

Somos um povo de tantas línguas e trejeitos que soma sempre estranhamento
Contornos de culturas e de histórias e de equívocos consensos ou ditaduras
A América é diferente da Ásia, mas ambos sofrem e sobrevivem

Queria saber pintar e classificar os comportamentos e assim dizer o conto universal
Mas somos inúteis no que se compete à memória integral
Cantamos, escrevemos e gritamos, mas tudo é apenas uma palavra seca e estéril

Na montanha em pedras de uma cidade andina vejo camponês a caminhar devagar
Na rua de frente à loja, menina joga lixo na grama de um destruído jardim público
Cachorro late e vasculha os detrimentos do que foi uma refeição da festa de criança bastada



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