porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Wari, um povo nação



Ontem tive a oportunidade de conhecer a cidade, ainda não desvelada totalmente, do povo Wari, os que antecederam a tão cultura Inca.

Um povo de uma geografia urbana e democrática, com um refinado talento para o talhamento de pedras, modelagem de cerâmicas e de artefatos em metal e prata.

Porém, o que sobrou deste fenômeno humano foram restos de pedras e destroços de cerâmica espalhados por todo um sítio arqueológico. A história explica e revela esta parte que muito se desconhece principalmente em terras estrangeiras, que justificam o espírito de luta e apaixonado deste povo de pele morena e de mãos hábeis para as coisas das terras.

Quantas culturas foram esmagadas e aniquiladas pela coroa espanhola? É admirável e revelador que existiam técnicas invejáveis de hidráulica e de construções avançadíssimas. Sem contar com a riqueza histórica e lendária concebido nos vales, montes e planícies que se configuravam em pequenos aglomerados de gente e de cultura, verdadeiros poços de conhecimento feito em técnica e crença. Tudo isto foi enterrado e diluído e evaporado junto com o sangue desta gente.

Tudo isto, um capítulo desconhecido por grande parte da humanidade, principalmente aquelas que choram por suas colonização. No caso do Brasil, somos parte de uma América, mas não das dores da colonização espanhola, isto faz com que se tenha uma certa distância e desconhecimento desta vitalidade histórica. Só se sente parte quando sofre e conhece junto, isto é companheirismo, “comer juntos” (con panis).

Ao andar e vasculhar estes lugares não se encontra apenas ruínas e pedras, que um dia formaram parte de um mosaico de um povo, mas sim encontra vestígios de uma história de lutas e opressões que valeram a própria vida desta gente. Se nós nos depararmos com este cenário histórico entendemos e muito de qual América estamos falando e ainda vivemos. Hoje esta gente representa o exílio, e a marcha em pobreza e derivação de um processo de morte e de escárnio. Além, disso depois da revolta de Ayacucho, em que o povo, coronéis e soldados lutaram de maneira desfavorecida contra o exército espanhol, em que o povo local foi à luta com pedra e paus, e assim, venceram a tão histórica batalha, o Peru teve que pagar à coroa espanhola muita riqueza, pelo “capital” de conhecimento que eles haviam deixado (segundo versão do colonizador). Bem este foi o acordo sugerido da Espanha para deixar em “paz”, sem a pretensão de poder e de subjugação, esta nação.

Duas estranhas situações rondam esta história:

A primeira, é que a Independência da América se deu pelas mãos dos campesinos, com sua força, coragem e simplicidade. Este é o lado heróico e emblemático para o engrandecimento deste povo.

A segunda situação estranha, foi o fato da coroa exigir bens em troca da retirada de suas tropas e estratégias, com a justificativa que seria um prejuízo inigualável tal atitude. Mas que riqueza eles deixaram? Este povo lhes ensinou diversas técnicas e além do mais foram exterminados culturalmente e corporalmente de seus contextos. Obviamente, que esta é a parte irônica revoltosa para uma análise nos nossos tempos.

Enfim, parte de um história que quero contar para os meus filhos e inseri-los neste contexto, para que um dia tenham coragem de levantar-se e argumentar contra tantas barbáries de opressão e arrogantismos culturais de pessoas que destroem para construírem seus egos, banhados de uma psicótica crença. Salve o povo Wari e suas almas tecnológicas, lendas, religiosas, históricos, que desta terra brote vida, para estas vidas que sobraram e tentam sobreviver, com o resto que sobrou em feridas sociais, culturais e psíquicas. Termino, com uma frase solta e que diz por si mesma, sem excesso de palavras: A doença social, estigmatiza e molda a psique e o corpo, como uma artista da pobreza e falência em todas as dimensões.

Não faço aqui ufanismo, sei das leis e contradições também deste povo, mas nada é mais opressor do que amputar um povo a sua liberdade de ser e de fazer a sua história.

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