porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

domingo, 10 de julho de 2011

Aniversariar é pensar em algo além de nós


(memória do dia 26/06/2011)

Ontem fiz 30 anos. Uma linha de anos e acontecimentos. Momento cozido num pesar de dor e incomodo que caiu nos poros de minhas horas. A visão é que já são três décadas de vida, às vezes, a matemática torna-se num bom senso e no bisturi de um cirurgião de verdades. Entulho de idéias defraguei ao longo de algumas horas de ócio e memória. Refugiei-me no canto da cama de casal, construindo momentaneamente um eremitério, uma colina, um abismo em que a única coisa palpável, imaginável e comunicável, era o vazio do que sobrou de mim, se é que esta imagem reflete o que quero expressar. Mas entenda-se a intenção e não a condição. Este é o poder do sensato leitor. A questão central era: o que tenho feito de minha vida? Ou melhor, o que sou dentro dela? Será que ela é minha? Ou sou de algo que é manuseado por outro(s)? Pergunta tão comum ao ser humano nos momentos de celebração tanto da vida quanto da morte se é que podemos cortar as duas como realidades distintas e isoladas feito ilha e oceano. Hoje me faz sentido as imagens alegóricos utilizadas por Nietzche, o bom pensador que morreu louco feito professor do caos e da demência, mas enfim, as imagens eram a do camelo (tu deves), leão (tu podes) e da criança (tu és). Na vida laboral somos embutidos numa gestação que nos fabrica para a temporalidade de um afazer sem rumo e sem sentido. Morremos as horas em reuniões e idéias limitadas pelo dever. Devemos agendas. Devemos amores e respeito sem querê-los. Devemos uma arquitetura existencial sem perguntar a nós mesmos se era isto que queríamos, mas como isto acontece? Não somos nós que decidimos? Hoje somos receptivos as decisões que compete a outras pessoas, na vida laboral, social-afetiva. Quem terá coragem e consciência pratica suficiente para assumir e anunciar seus comportamentos bandidos e promíscuos além de sair pela rua com sua roupa rasgada e sua barba suja de comida e bebida sem a pretensão do temeroso medo? Minha companheira falou num diálogo picado de tantos assuntos: "Transforma seu incomodo desconforto critico e analítico em uma atitude que seja". Talvez esteja naufragado na pasmice que sempre critiquei dos seres totais: religiosos, políticos e estudiosos. Somos feitos pelos outros. Ao sair na rua vi como as pessoas que somos nós, se geometrificam numa relação patológica diante dos outros. Não falam de projetos, processos ou coisas, mas falam dos outros e no que tange as suas vidas com os outros. Enfim, nestes tantos anos sinto-me conhecedor de tantas situações, mas perdido com informações desconectadas pela falta de mais contemplação. Na janela respinga a chuva e na TV anuncia que meu time goleou por 5 x 0 o grande rival. A noite chegou já na alta madrugada um gosto de medo e de morte petrifica minha saliva. O que sou, faço e serei. Lembrei dos que estavam ao meu lado e despareceram na continua historia. Talvez a única verdade autêntica e real ao longo destes últimos anos horas e presente. Velai o seu próprio corpo antes que não tenhas olhos e memória para a vida. Heidegger dizia: que a única razão da morte esta na possibilidade da vida. Somos seres para morte. Afasta qualquer tipo de preconceito e de hábito. Jogai fora os tratados sobre a condição da morte e deposita nos lixos qualquer tipo de simbologia e parafernália religiosa sobre a condição do fim. O fim é a condição do início a possibilidade profunda do meio.

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