Hoje visitei um espaço de moribundos, chamado de “cracolândia”. Coisa estranha e mergulhada em caos. Já vi muita coisa mas assustei-me complexamente. O que causou desespero foi o mosaico estruturado ao longo destes dias. Ruas esquecidas, obras burramente levantadas e remendadas. Arvores destroçadas em projetos concretos. Mundo besta, dificultado pela sensação de desconforto alimentada pelo contorno fedorento, sujo, raquítico e doente desta realidade, chamada São Paulo. Onde fica o Alphaville? Em algum lugar e estado longe daqui. O território e a geografia tem a ver com cheiro, contorno e gosto.
Besta cidade
Saia um dia de casa
Pode ser de carro, a pé
Ou de qualquer forma
Porém que seja presente
Pare na frente da cracolândia
Veja o cheiro das crianças,
As mãos das mulheres
E a boca dos garotos
Depois saia e observe as obras publicas
Inacabadas e mal lavadas
Mal gosto de remendos
Placas anunciam alto custeio
Meça sua rua com a proporção de arvores
Examine os fios estendidos no céu baixo e estreito
Toque os postos tortos e cinzentos a cada passo
Compre uma janela antirruído para seu filho não enlouquecer
A vida seu sargento nesta cidade é uma coisa
Sem razão e nem delírio
A sensação é de um monte de irrealidades
Sem amor ou sem perdão
Sem amor ou sem perdão
Quem vai publicar tamanha estranheza?
Quem diria aos outros nós que somos assim?
Quem pintará as mentes dopadas desta multidão?
Quem construirá uma nova cidade presente-futura?
Sei do que vi, cheirei e chorei
Caminhei, medi e senti
Falei, montei e decorei
Falei, montei e decorei
Analisei, escrevi e tentei
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