porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

domingo, 4 de dezembro de 2011

blá cotidiano

Quem sou eu? Pergunta tão obvia e tão fresca na minha pele e do lado esquerdo do peito. Existem sentimentos que nos atravessam feito lamina fina, de tão fina é invisível. Estou numa mesa qualquer num bairro distante e sinto-me longe de tudo que me dá brilho, força e motivação. Estou como um palhaço sentado ao lado de fora do circo ao final do espetáculo e com a soma infinita de um cansaço de fazer os outros rirem. Enquanto isto minha maquiagem esfarela-se em suor. Peguei o telefone e vasculhei alguma alma conhecida. Parei num número de cumplicidade e história da infância, adolescência e juventude. Ao ligar caiu-me a verdade parcial, toda verdade é parcial, para não dizer a parte de uma hipótese, ela não conheceu a minha voz e nem imaginava quem era. Eu disse, “sou o Fábio”, ela em um sobressalto perguntou, “Que Fábio?”. Neste momento restou-me apenas uma memória de quem hoje eu era. Tantos amigos, tantas vidas e toda esta história ficou parada de frente de um muro que hoje separa a minha vida presente de uma vida passada, feita como um museu que nem de cera pode ser, apenas de imagem soltas e meio apagadas de um passado que esqueceu de construir a sua própria ponte para o presente-futuro. A solidão é a voz sem retorno, é a mão sem a carícia ou é o rosto desconhecido de nós mesmos. Sei o que fui, mas não sei o que sou e o que serei. Cai sobre mim mesmo um peso de meus dias, que se perdem no labirinto do desejo (ou melhor, da falta dele) e dos compromissos inúmeros somados numa agenda em uma mochila que carrego, feito montanha triste embrulhada.

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