porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

domingo, 13 de setembro de 2009

PINACOTECA

A arte terá razão de ser por ela mesma?

Como um espermatozóide sem ejaculação?
A arte o que?
Seria o contorno evidente de uma realidade despercebida?
Ou é som e cor pela aparência?
Terá um recheio, um sentido?

O que diria Matisse?
Acabei de sair de uma exposição deste autor
Pinacoteca conserva o que há de mais valioso
Quanta coisa e gente lá
Salas forradas de obras-primas
Corpos contorcidos e quebrados
Para agredir e perceber que a vida é imperfeita

Quanto colorido e formas
Nada de tão dito, mas tudo explícito
Ares da tantos lugares França, Holanda...
Paisagens e formas diversas,
mulheres desnudas, pagas como manequins
O gosto do contorno e luz
Genialidade no toque
Toque do quê?

Acabou.
Fim de expediente
Seguranças avisam o término da aventura
Saí.
Lado de fora,
Vaguei entre o bosque e as ruas
Vi bêbados.
Miseráveis com instrumentos mal tocados

Atravessei a avenida, atrás de mim o imponente templo da arte
Castelo de mistérios e histórias
A minha frente uma porta grande com muita gente
LUZ
Uma estação diferente, mas igual a qualquer pedaço de São Paulo
Crianças com roupas coloridas e cheias de letras,
Diferentes mas todas iguais
Pais suados pelos passeios
Mulheres estressadas pelo destino num trem lento e velho
Atrás e acima turista com máquinas vislumbram o teto da construção
Marco histórico
Mais um flash de arte que está na construção
O resto dá nojo e é repugnante
Deve ser evitado, excluído, fugido

A beira dos corredores da estação a obra por excelÊncia
De uma cidade construída e arquitetada inconscientemente
mulheres altas baixas e gordas
A sujeira está na pele e não no chão
Unhas pintadas
Pernas feitas de algo que não saberia pintar
Velhas e barrigudas
Prostituas, “mulheres da vida”,
Ou mulheres de nós mesmos,
homens e mulheres,
adultos e crianças
Pedofilia?
Não somos pais daquilo que engravidamos pela insensibilidade
Estrupamos a cada nascimento de uma miséria
Pensei, caminhei e olhei nada mais
Sobrou-me o caos do desepero
O não-fazer
Na minha frente se levantava um ônibus de fronte a Pinacoteca
Quanta gente cheirosa, quantos artistas nasceram nesta merda do não-cheirar?
Não sabemos o odor da realidade
Muito menos a agonia da vida
Quando andava, um monte de mulheres afobadas,
esperavam catar alguma oportunidade
Moeda de mais valia, penetração e grana
Agride? Porquê?
Nada mais do que um gesto solto sem moral
Assim como ir até a igreja: uma crença
Pular no escuro, diria a voz rouca do pastor
Atrás uma mulher toda feia e pobre chorava
Desespero? Medo?
Não sei

Caminhei
Fui
E pensei
O que terá Matisse visto?
Quem pagará o imposto destas obras?
Envergonhei-me por gastar meus sapatos no solo daquele lugar
Longe da realidade, distante do intelecto
Mediocridade da consciência
Não há arte sem corpos e denúncia
O que sou da Luz?
Um turista e um ilusionista de minhas idéias e percepções
Quero ser artista?
Enquanto escrevo isto a tv revela mais um ator
Não considero samba sem comunidade
Nem pintor sem prostituta
Assim como cidadão sem o outro perdido em tantos cantos
Nem percorridos e nem sabidos.

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