porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

sábado, 17 de outubro de 2009

Inveja do Artista




O artista é por excelência o trabalhador do belo. E toda beleza consiste de uma pretensão inútil, mas necesária. Antagônica como o ar e pulmão. Sem troca e preço, mas imprescindível na relação. A pessoa que se apresenta no cenário da arte gasta tempo e dinheiro na forma do que vê e sente. Debruça-se nas horas desprendido pelo mergulhar em si e nas coisas que o rodeia, e a engendrada mágica de refazer aquilo que lhe escapa, como amorte some das mãos dos que velam. Contrário aos operários do fazer, ele se afunda, entra e se molha nos detalhes perdidos e achados na consumação da contemplação. Faz-se melhor e profundo a cada dia. A cina do escravo do dinheiro e da técnica metrifica e vomita coisas pra fora. Constrói prédios e cadernos, mas não sabe a leveza do contorno da existência e do que ela arrecada em seu sumiço metodológico. Dá-me um palco e um casebre na montanha, refazendo-me no orvalho e no jantar improvisado. Quem se dedica a arte, se dedica num castelo sem pedras e portas, mas moldurado no templo de um ermo que é o próprio pé e peito de quem concentra a realidade por segundos, mas infinitos sentidos. Sentimento da alma e caminho da razão, talvez seja um enunciado da arte. No barulho de um computador o menino engole-se numa tela branca e colorida por imagens postadas por outros. Quem mostrará a delícia e saudade de um lugar amontoado na selva? Quero floresta e luz de arte, para sobreviver com mais dignidade e razão. Quero ser um humano mais atento, mais malandro, malicioso e filósofo daquilo que se perdeu e se consumiu na gula da rotina.Meus dedos não tocam música, por que cansei delas, minha rima quebrou no absurdo do tempo e do que hoje sou. A te´cnica não acompnha o crescimento da existência. Esta é a dor de quem sabe e a fome de quem já comeu e sente desejo de algo que não se encontra mais. Arte saudade do que sou, seria e serei.

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