porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

sábado, 27 de março de 2010

PERCEPÇÃO CONCRETA

Ontem andava de ônibus, apertado feito sardinha na loja da esquina de uma periferia vertendo de gente e de sóis enormes. Enfim, inferno metrificado. Olhava para as ruas e construções peguntando-me: "Onde está o direito da terra e de suas biodiversidades?" Eu via concreto, ferro, cerâmicas, plásticos e fio, ou seja, coisas entulhadas uma sob as outras, como tapete de ferro velho num campo de trevos. Não existe razão para a insanidade bárbarie e psicótica que confeccionamos diante de nossas próprias penas. Almas penadas! Somos assombrados por delírios e medos, ergo-me na frente de mim mesmo, feito defunto realizando sua autópsia. Estarei vivo para isto, ou serei um lapso entre imaginação e toque de aleijado? Não sei a origem e o princípio com que nos perdemos numa lógica sem barranco e nem porto. Quero dizer a mim mesmo e ao meu filho: "Vamos embora! Saiámos e procuremos um lugar para plantar, colher e passar a noite ao relento, ao som de uma lua melancólica. Falaremos de nossas infâncias e dos nossos amores de porões. Dormiremos tortos e com os pés gelados numa rede pequena em gigantescas varandas.  Quero falar para o meus netos dos medos reservados no ato da vida, das insônias e dos calafrios frente aos velórios. Não quero ter jardim, quero ter uma florestra, quero ter um riacho e não um quintal. Queria ver minha roupa surrada, sem cor, apenas com um sentido de existir - protejer - como roupa de Francisco de Assis. Não saberia relatar feito diagnóstico o que aconteceu com os meus vizinhos, com minha vida, com a vida dos meus. Serei um ser a mais neste metrô de metro, nesta rua nua, nesta gente entificadas em coisas sem coração e mente. O ônibus chegou no ponto, lugar de chegada, minha viagem permanece algemada com os meus deveres. Sai correndo (ATRASADO) para assentar-me numa reunião. Trabalho mais um dia. Sobrou-me esta folga entre um sono e o barulho da rua, que é palco de adolescentes e jovens ao som de um Rap, verdades de cores e sons, nada mais e nem menos. Enquanto isto a atelevisão na sala esquenta e na cama a amada dorme, cansada pela canseira embutida pela carnificida de mais um dia nesta cidade. 

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