porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

domingo, 2 de outubro de 2011

Carma divino


Tua pele branca desliza uma leve palidez fosca e aveludada feito neve de brincadeira, com olhos pequenos e borrados por uma faísca azul esverdeada, contornados pequenamente por um fio de maquiagem preta.  És uma imagem tão doce, atípica e exótica como um ar de outono no fim da tarde de tormenta. Tens um tecido que cobre a cabeça, com detalhes em branco e rosa, dele revelam-se fios de cabelos transbordando na nuca, como sorvete derretendo na casca, e espraiando a pequena testa. Soube que há um tempo curto de tempo, fora agarrada por uma doença maligna, porém, isto é segredo e não falas, vives.  Materializas está dor em delicadeza. A doença é feminina, pois gera um corpo frágil e terno. O que sobressai não são estes e outros acontecimentos que porventura te atravessam ou te mergulharam, mas sim, publica em tua fronte uma delicadeza enigmática e teu vigor magistral. Reveste-te de uma moda, toda própria que recorda uma rainha europeia em um deserto de noite, onde o frio lhe proíbe o bronze ou o suor. Pergunto-me nesta hora qual a sua origem? Quem será o teu pai? E tua mãe? E por fim, cai uma gota de medo frente a esta beleza tão rara e tão singular, carregada por um carma ou um delírio de divindade que surpreende como grito de criança ao nascer. Quem irá assistir a tua morte num dia distante em que te sobrará uma raquítica memória deste dia em que lhe conheci, como um espectador de ópera sem ser percebido pela atriz principal do espetáculo.

(Uruguay - num dia em uma instituição de "orfãos de tudo")

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